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O PERIGO DA CENTRALIZAÇÃO

Atualizado: 28 de mai. de 2022


Foto: Henrique César - FEC

 

Nesta semana, após a pressão nas redes sociais vindas de jornalistas e especialistas em futebol feminino, a CBF se pronunciou em relação aos Campeonatos Brasileiros das séries A2 e A3. De acordo com o ótimo texto do site Fut das Minas, escrito por Emilia Sosa, a CBF decidiu adiar o início das competições, pois estava reavaliando o período e o formato de cada uma delas, além de todo o orçamento disponível para custear viagens e ativações.


Não era o esperado pelos clubes. Todos eles iniciaram um processo de preparação e agora ficam sem saber se exatamente se terão um calendário que seja condizente com os investimentos feitos e as suas expectativas ao conseguirem a vaga nas competições.


Ao passarmos pelos nomes das equipes que foram impactadas com os adiamentos das competições, algo nos chamou atenção. O número de equipes representando as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Pelas nossas contas, 31 das 48 equipes estão localizadas em Estados destas regiões, que já sofrem com pequena presença na elite do futebol feminino do Brasil: temos apenas o Centro Oeste conta com duas (Real Brasília e CRESSPOM), a região Norte com uma (ESMAC) e o Nordeste sem nenhuma equipe representante.


A centralização do crescimento do futebol feminino no Brasil é algo preocupante. A prática do esporte precisa se espalhar pelo país de uma forma mais abrangente, com maior apoio de confederações e federações para que se ofereça as mais jovens a chance de iniciar e se relacionar com o futebol em algum local próximo da sua casa e não buscando peneiras ou projetos de desenvolvimento nos grandes centros econômicos.


Ver a evolução apenas nos principais polos econômicos do país pode fazer do futebol feminino um esporte elitista e exclusivo, privando ainda mais da população pobre a chance de ter um contato mais direto com a modalidade e claro, dificultando o aumento do número de atletas se desenvolvendo país afora.


A criação de um calendário que ocupe grande parte do ano e o aumento do número de competições, no profissional e na base, deveria ser um dos pilares para o crescimento do futebol feminino no país, não só como performance, mas também como cultura do jogo.

Ter mais mulheres jogando não significará automaticamente que teremos o surgimento de um Marta em cada região do país, mas sim de que teremos cada vez mais mulheres praticando, vivenciando e tendo um envolvimento mais natural e agradável com ele, podendo nos oferecer um ambiente cada vez mais diverso.


A falta de investimento que afeta estas regiões há anos reflete diretamente na seleção brasileira, que na última Copa do Mundo contava com apenas quatro atletas nascidas por lá e, ironicamente, todas do Nordeste, região que hoje não conta com nenhum clube no topo da pirâmide do nosso futebol.


Num país de Formiga, Sissi e Marta - todas nordestinas - fechar os olhos para estas regiões não só é neglicenciar os talentos que sofrem com a falta de incentivo para continuarem com o sonho, como joga fora a chance de termos um país com cada vez mais mulheres jogando futebol e com uma relação mais apaixonante e saudável com o jogo.

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