Em ambos os gêneros, o futebol espanhol vive seu ápice
20 de agosto de 2023, Sidney.
Liderada por Aitama Bonmati, a seleção espanhola feminina se consagra campeã mundial pela primeira vez ao vencer a Inglaterra por 1 a 0. Menos de um ano depois, na Alemanha, as duas nações se enfrentam novamente, porém, desta vez, com as seleções masculinas. E mais uma vez a Espanha comprova o seu favoritismo e conquista, pela quarta vez, a Eurocopa Masculina.
Neste momento, o futebol espanhol vive uma segunda fase da sua era dourada. A primeira - apenas no futebol masculino - aconteceu entre 2008 e 2012, apoiada no fortíssimo Barcelona daquele período, que contava com a mente pensante de Pep Guardiola, responsável por implementar a evolução de uma ideologia iniciada por Johan Cruyff nos anos 90, mas que foi descontinuada graças a uma crise de identidade por parte do clube catalão anos depois.
Foi também neste período que o futebol feminino do Barcelona passou por uma reestruturação. Em 2008, depois de uma crise que quase gerou o fim das atividades, retornou para a primeira divisão nacional, ganhou a Copa de La Reyna em 2011 e a sua primeira Liga em 2012, chegando à Champions League e iniciando um crescimento que o levaria a hegemonia da modalidade no país e, paralelamente, tornou-se a base da seleção que viria a ser a melhor do mundo. Tudo isso tendo como pilar a implementação de uma nova cultura de jogo, que teve início no futebol profissional masculino, se espalhou pelas “Canteiras” de La Masia e atingiu os campos de treinamento e de formação do futebol feminino.
Assim como o trabalho iniciado por Cruyff deixou em seu legado nomes como Xavi e Iniesta, o trabalho iniciado na primeira década deste século entre as mulheres, com grande influência do treinador Xavi Llorens, proporcionou ao futebol feminino Culê o surgimento de nomes como Alexia Putellas e Aitama Bonmati, ícones das conquistas do clube e da seleção espanhola.
Antes de seguirmos, sim, sabemos que Putellas veio do Levante e jogou pelo rival Espanyol, mas antes disso, passou pelo Barcelona quando jovem e retornou ao clube em 2012, quando tinha apenas 18 anos de idade.
O crescimento do Barcelona Femení foi o principal responsável pelo aumento da prática do futebol entre mulheres nos últimos anos em território espanhol. O seu sucesso também é o motivo do crescimento, ainda que quase por inércia, da Liga F, a primeira divisão do futebol feminino do país e do surgimento de mais projetos de formação de atletas, sejam eles sob liderança da RFEF –, a federação do país com as quais temos diversas ressalvas (vide o caso envolvendo o ex-presidente Luis Rubiales), mas também de outros clubes, como os Bascos Real Sociedad e Athletic Bilbao, o Sevilla e claro, o próprio Barcelona.
Além desta mudança estrutural, principalmente no futebol feminino, todas estas conquistas recentes, em ambos os gêneros, têm em comum uma mudança cultural que influenciou a forma de se jogar e pensar o futebol na Espanha. Conhecida como “A Fúria” durante o século passado, a seleção espanhola e o futebol espanhol pouco tinham oferecido ao jogo, taticamente falando. Porém, ao absorver referências dos estrangeiros no auge da liga masculina, na época chamada de “A Liga das Estrelas” e ver surgir um dos maiores pensadores da história do futebol, Pep Guardiola, tudo mudou e a Espanha hoje, entrega além de títulos, um legado de atletas, treinadores e da cultura de jogo que vem influenciando o mundo todo.
Quis o destino, que num momento oportuno, o auge do futebol no país coincidiu com o crescimento do futebol de mulheres e elas, muito graças ao esforço próprio, tiveram conseguiram absorver e implementar, à sua maneira, um estilo de jogo “espanhol” que além de vencedor, é agradável de se ver. Para finalizar e para deixar claro, as “aspas” acima ao citar a Espanha é para lembrar que, uma parte deste sucesso se dá graças aos espanhóis filhos de imigrantes. Não há futuro do futebol espanhol sem nomes como Selma Paralluelo, Vicky Lopez, Nico Williams e Lamine Yamal – atletas negros e descendentes de pessoas nascidas em territórios colonizados por espanhóis
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