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O NOME DA REVOLUÇÃO: SARINA WIEGMAN

Atualizado: 19 de jul. de 2022


Foto: Getty Images

A qualidade do futebol apresentado pela seleção inglesa nos últimos jogos, contanto os amistosos, eliminatórias para a copa e as partidas da EURO, deixam claro que a equipe vive um processo de constante evolução. Para muitos, a melhora em âmbitos táticos e técnicos tem como personagem principal um nome: Sarina Wiegman.


A treinadora holandesa, que levou o seu país a conquista do torneio europeu em 2017 não se tornou uma referência à toa. Toda sua história é repleta de muito trabalho, busca por conhecimento e os resultados estão longe de ser uma surpresa.


Sarina, como todas as mulheres, começou jogando em equipes repletas de garotos até encontrar equipes femininas semiamadoras da sua região. Ao se destacar em uma delas, foi convidada a fazer parte do KFC’71 – tradicional equipe nas décadas de 70 e 80 do futebol holandês. Graças as boas atuações no clube, fez parte da seleção holandesa que disputou o FIFA Invitation Tournament na China em 1988 e chamou a atenção do treinador Anson Dorrance, que a convidou para estudar na universidade de North Carolina para fazer parte do North Carolina Tar Heels e jogar a Liga Universitária, que na época era o grande desejo das atletas de alto nível nos EUA.


Por lá ela teve a companhia de nomes históricos do futebol dos Estados Unidos, como Mia Hamm, Carla Overbeck e Kristine Lilly e ainda assim conquistou seu espaço, com muita técnica na distribuição do jogo e sempre dando o máximo do seu esforço, até nos treinamentos. Com o passar do tempo, outra qualidade começou a chamar a atenção: a liderança. Wiegman começou a ser a voz do treinador dentro de campo, sempre com a fala calma e com muita clareza, dando os primeiros indícios de que, caso quisesse, poderia tranquilamente se tornar uma treinadora.


A volta a sua terra natal foi para jogar no Tar Leede. Por lá encarou uma outra realidade. Ao contrário da estrutura que tinha na universidade, teve que lidar com um ambiente que beirava o amadorismo, tanto que teve que trabalhar como professora de educação física durante o período em que jogou no clube. A falta de estrutura e de pessoas para administrar o dia a dia da equipe serviu de oportunidade para que ela conseguisse conquistar seu espaço ainda mais rápido. A experiência adquirida como professora contribuiu demais para ela ampliar os conhecimentos de como gerenciar grupos, principalmente de pessoas mais jovens.


Perto de encerrar a carreira, Sarina deu mais um sinal de que ela seria uma pessoa especial para o futebol. Ao ver muitas meninas desestimuladas a praticar esportes ela criou um programa de desenvolvimento para jovens garotas praticarem futebol. O “SARINA PROGRAM” dividia as participantes por idade e tinha como um diferencial a oportunidade de as garotas treinarem duas vezes por semana com os garotos, para que elas se desenvolvessem de maneira mais rápida.


Três anos depois de pendurar as chuteiras veio o convite de voltar ao Tar Leede, mas desta vez como treinadora. Encontrou o clube em péssimas condições, mas mais uma vez aplicou todo o seu conhecimento para levar a equipe, já no seu primeiro ano, a conquista da Hoofdklasse – Liga semiprofissional mais importante do país na época - e a KNVB Cup, a Copa da Federação Holandesa. O período como treinadora no clube onde passou anos como jogadora durou pouco e depois de um ano transferiu-se para o ADO Den Hag, equipe que ela chegou a treinar com os garotos na adolescência, para ser a treinadora no primeiro ano de profissionalismo do futebol feminino na Holanda.


Foi no ADO Den Hag que a treinadora obteve maior reconhecimento sobre a forma como ela fazia a equipe jogar e como a relação dela com as atletas fazia dela uma líder exemplar. Mesmo não ganhando títulos de imediato, Wiegman fez cada uma das suas jogadoras evoluírem como atletas, sempre mostrava variações nas formas de jogo e rodava o seu elenco para que todas tivessem oportunidades. Na maioria das temporadas ela teve a melhor defesa da liga holandesa e ainda assim era vista como uma treinadora que fazia o time jogar para frente. O bom trabalho no clube chamou a atenção da liderança da seleção holandesa, que no fim de 2013 não titubeou em convidá-la para ser assistente de Roger Reijners e coordenadora da seleção feminina sub19.


Dentro da estrutura da seleção ela recebeu todo o suporte que precisava para atingir um nível mais alto. Em 2015 ela foi a terceira mulher do país a conseguir a licença UEFA PRO e durante o seu período de estágio no Sparta de Roterdã impressionou tanto as pessoas no clube que se tornou a primeira mulher a treinar uma equipe masculina na Holanda. O feito histórico não durou mais de seis meses, mas foi por um bom motivo. Com a saída de van de Laan do comando da seleção principal, ela recebeu o convite ser a treinadora da seleção holandesa há menos de um ano de a Holanda sediar a EURO.


No início do trabalho, um causo no mínimo curioso explica bem como Sarina é diferente e acima da média. O seu assistente, Foppe de Haan, campeão sub21 europeu em 2006 e 2007, era conhecido pela voz alta e a forma como se expressava na beira do gramado. Incomodada com o fato de ter um subordinado ao lado dela dando palavras de ordem com um tom de voz maior que o dela, ela decidiu que de Haan ficasse nas arquibancadas. Com isso ela seria a principal voz dentro de campo e teria um assistente com uma visão mais periférica da partida que poderia auxiliá-la nas decisões. A parceria deu muito certo, tanto que dessa forma ela conquistou logo de cara a competição de forma invicta, com direito a uma atuação de gala contra a Dinamarca na final.


Dois anos depois, outro grande momento, o vice-campeonato mundial. A derrota para os Estados Unidos foi dolorida, mas nem de longe apagou todo o trabalho feito por Sarina e a importância da sua voz no desenvolvimento do futebol feminino na Holanda. A forma como a sua equipe jogou nestes dois grandes torneios serviu de trampolim para diversas jogadoras holandesas, como Jansen, Miedema, Mertens e van de Sanden ganharem ainda mais destaque no cenário do futebol feminino e claro, com a treinadora não poderia ser diferente.


Em 2020 foi a vez de aceitar o convite de treinar a seleção inglesa, tornando-se a primeira pessoa não-inglesa, entre homens e mulheres, a treinar as Leonesas. Para a FA, federação do país, o nome de Wiegman significava um salto de qualidade não apenas na forma de jogar, mas na forma como as jogadoras da seleção encarariam os desafios. A busca por uma mentalidade vencedora deu resultado. Mesmo com a eliminação nas quartas de final dos jogos olímpicos de Tóquio em 2021 depois de um empate por 2 x 2 e derrota nos pênaltis, ficou claro que já era visível uma mudança. A sua influência no comportamento das jogadoras, principalmente em jogos contra seleções mais tradicionais, algo desejado assim que o nome dela foi o escolhido, aconteceu e isso deu a ela mais tranquilidade para trabalhar e seguir com o plano de ter uma equipe preparada para o que realmente importa: a EURO disputada em território inglês.


A forma como ela empoderou as jogadoras da seleção, fazendo-as sempre entregarem o máximo da sua performance e o dom de criar um ambiente em que as envolvidas se sintam confortáveis para se expressar e serem realmente que são, fez com que tudo ficasse mais fácil para ela aplicar todo o seu conhecimento. A cada partida que a Inglaterra vence na primeira fase, com o time apresentado de forma clara os principais atributos da sua treinadora – defesa sólida e ataque envolvente – a impressão que fica é de que Sarina Wiegman vai repetir o sucesso que teve há cinco anos.


E não há COVID que vá impedi-la disso.









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