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LCA: A SIGLA QUE ASSOMBRA

Um conteúdo especial sobre um tema complexo e que precisa ser discutido com muita responsabilidade


Foto: Visionhaus | Getty Images

Dia 7 de janeiro. Ao acessar o Twitter e ver o post do perfil oficial do Chelsea feminino sobre a contusão da atacante australiana Sam Kerr, a reação foi imediata: NÃO PODE SER... MAIS UMA???


Pois é, aconteceu de novo. Outra atleta. Outra grande estrela do futebol mundial. Outra contusão no ligamento cruzado anterior do joelho, o famoso LCA, o maior pesadelo das mulheres que praticam futebol. E claro, como todas as vezes que alguma atleta tem essa contusão, a reação imediata de parte das pessoas que acompanham futebol é buscar o culpado. Por mais que seja uma ação natural do ser humano, é um erro grave apontar para apenas um fator como a causa para algo tão complexo.

 

Seja você jogadora, treinadora, dirigente, jornalista ou torcedora, a primeira coisa que precisa entender é que existem diversos fatores potenciais que podem contribuir para que as contusões aconteçam. Outro fator importante, é que as mulheres são entre quatro e oito vezes mais propensas a terem este tipo de contusão, e o trabalho feito para mudar esses números, mesmo com confederações, marcas esportivas e universidades desenvolvendo diversos estudos, ainda é lento se comparado com a evolução do futebol de mulheres. Além disso, os estudos são praticamente inconclusivos, pois não consegue apontar uma razão para isso acontecer e um caminho para a solução.


 

OS FATORES DE RISCO

A primeira coisa que precisamos entender é quais são os fatores de risco para que a contusão de LCA aconteça e buscar formas de prevenção, já que se trata de algo praticamente impossível de ser evitado 100%. Os estudos recentes apresentam diversos fatores que podem facilitar com que algo aconteça, mas aqui citaremos cinco que são considerados os principais “vilões” das atletas. Eles são:

 

1 – O FATOR ANATÔMICO

Existem diversas diferenças anatômicas entre homens e mulheres, mas a principal é de que as mulheres têm o quadril maior do que os homens. Isso contribui para a pronação, ou seja, contribui para que joelhos e tornozelos das atletas se inclinem para dentro, causando um stress ainda maior ao ligamento cruzado anterior. Com o aumento da quantidade de jogos e calendários bem distantes do ideal, os ligamentos ficam mais frágeis e propensos a algum tipo de lesão.

 

2 – O FATOR NEUROMUSCULAR

Dica para a vida (seja atleta ou não): Fortaleça os músculos dos seus quadríceps e isquiotibiais - os músculos da parte posterior da coxa. As mulheres tendem a utilizar os músculos da parte inferior do corpo para a maioria dos seus esforços e isso pode contribuir para a hiperextensão dos joelhos. Por isso, é muito importante que haja um reforço na musculatura desta região. Aqui, o problema, principalmente no Brasil, se agrava, pois muitos clubes não contam com a estrutura necessária para que as atletas façam o trabalho de reforço da forma ideal, principalmente durante o processo de formação, quando as jovens atletas ainda estão em fase de crescimento.

 

3 – O FATOR HORMONAL

Saiba você, que os ligamentos das mulheres se tornam mais vulneráveis durante o período menstrual. Mais especificamente, quando estão no final da “fase dois” do ciclo, que é quando o nosso nível de estrogênio são maiores, os de progesterona são menores, fazendo com isso, que os ligamentos fiquem mais soltos.

 

4 – O FATOR CAMPO E CHUTEIRA

Os locais onde se treina e se joga e a chuteira escolhida podem, sim, serem fatores de risco para a contusão de LCA. A péssima qualidade de muitos gramados de estádios e centros de treinamentos – como vimos nos últimos meses em clubes como Santos e Atlético-MG, por exemplo – são facilitadores, assim como péssimos gramados sintéticos vistos em centros de treinamentos ou em jogos da categoria de base, que mais parecem carpetes de grama sintética, e ainda assim, vimos muitas jogadoras usarem chuteiras com travas mais altas em campos nestas condições. Em situações como estas, nos movimentos de frear ou mudar de direção, as travas podem não estar devidamente presas ao gramado e com isso não acompanhar o movimento do corpo, colocando toda a força nos ligamentos.

 

5 – O FATOR FÍSICO

O futebol é um jogo físico e não há uma maneira de prevenir contusões, mas de apenas buscar opções de diminuir o risco delas acontecerem. Estatisticamente, a maioria das contusões de LCA acontecem durante os jogos, nos lances de disputa de bola, em que são necessárias freadas bruscas e mudanças de direção, como citamos acima. Além disso, estes movimentos são feitos, na maioria das vezes, com contato direto da atleta da equipe adversária, e os impactos ou as disputas por território também podem aumentar o risco de contusão.


Como podem ver, são diversos fatores que causam a temida ruptura do ligamento cruzado anterior e a nossa intenção aqui não é apontar quem é o culpado, mas sim, trazer um pouco mais de conteúdo para as discussões. O único consenso sobre o tema é o de que mais pesquisas precisam ser feitas e mais informações precisam ser compartilhadas entre as pessoas que quem cobre a modalidade. Assim evitamos sensacionalismo e discursos viciados, que não ajudam em nada a busca por soluções.


 

DICA DA ROZZEIRA

No final de 2023, o Arsenal lançou uma ótima série de cinco episódios chamada STEP BY STEP, que traz a jornada de recuperação das contusões de LCA de duas das suas principais atletas: Beth Mead e Vivianne Miedema. Os episódios, que infelizmente não contam com legendas em português, mas tem o Closed Caption em inglês, estão disponíveis no YouTube. Abaixo o link para o primeiro episódio.



Instagram: @rozzeira

X: @_rozzeira

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