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A COPA DAS CAFETEIRAS

Uma breve história do futebol no país sede da Copa América


Estamos a algumas semanas da Copa América. A 9ª edição da competição será disputada na Colômbia, seleção que foi vice-campeã da competição duas vezes e sonha não só com a conquista em casa, mas também busca voltar a participar de uma Copa do Mundo - torneio que não disputa desde 2015.

A história do futebol feminino colombiano é bem semelhante à de outros países do continente. O esporte chegou através de imigrantes ingleses no início do século passado, começou a ser disputado pela elite e assim que algumas mulheres começaram a cogitar a entrada no esporte elas foram barradas. Pois, de acordo com os homens, o esporte era violento demais e poderia prejudicar a feminilidade da mulher, fazendo dela uma pessoa mais brusca e agressiva.


Os primeiros registros de mulheres jogando futebol na Colômbia são dos anos 70, com equipes escolares ou formadas por colegas disputando pequenos torneios e partidas amistosas. Este tipo de torneio poderia ser encontrado nas principais cidades do país, como Bogotá, Medellín e no Vale de Cuaca – principalmente na cidade de Cali - região conhecida pelas plantações de café, mas que neste período já sofria com a presença das guerrilhas, do narcotráfico e de paramilitares.


Em meados dos anos 80 a FIFA decidiu investir no futebol feminino e iniciou um processo de popularização da modalidade, organizando competições oficiais e cobrando de seus filiados uma melhoria na estruturação organizacional e financeiro para as mulheres. Neste período o número de praticantes no país começou a aumentar e algumas equipes semiprofissionais começaram a surgir, principalmente em Bogotá e Antioquia. Isso motivou o surgimento de um campeonato nacional, que aconteceu pela primeira vez em 1991. Nos primeiros anos de disputa uma equipe chamada “Seleção de Bogotá” venceu a maioria dos campeonatos.


O torneio foi melhorando ano a ano e chamando a atenção da Federação Colombiana, que até aquele momento, mesmo pressionada por FIFA e CONMEBOL, pouco fez para formar uma seleção nacional. Apenas em meados dos anos 90 a FCF iniciou o projeto, tendo Margarita Martinez como a única mulher na comissão técnica. Com o trabalho um pouco mais consistente do que nos anos anteriores, “Las Cafeteras” participaram da sua primeira Copa América em 1998. Venceram Chile e Venezuela, mas perderam para Peru e Brasil, caindo já na primeira fase.


Na segunda participação na Copa América, em 2003, Myriam Guerrero – capitã da seleção no torneio de 1998 e um dos principais nomes da Seleção de Bogotá nos anos 90 – era a treinadora. Mesmo com a derrota por 12 a 0 para o Brasil, a maior derrota da história da seleção, elas conquistaram o terceiro lugar e apresentaram ao mundo bons nomes, como o da atacante Sandra Valencia, que fez cinco gols na competição.


Nos anos seguintes a seleção principal sofreu demais com o alto número de mudanças no comando técnico da equipe, mas viu a estruturação do futebol feminino crescer no país, principalmente nas categorias de base. A seleção sub19 foi vice-campeã dos Jogos Bolivarianos de 2005. Três anos depois a seleção sub17 conquistou o sul-americano disputado no Chile e em 2010 foi ao seu primeiro Mundial sub20, quando conseguiu se classificar para a segunda fase em um grupo com Alemanha, França e Costa Rica. A equipe que tinha como destaques Tatiana Ariza e Yorelli Rincon chegou até a semifinal, quando perdeu para a Nigéria e ficou em quarto lugar na competição.


Este elenco foi a base para o sul-americano de 2011, quando a Colômbia foi vice-campeã perdendo a final para o Brasil. Com o segundo lugar elas conquistaram não só a vaga na primeira Copa do Mundo de 2011, como também vaga nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Nos dois torneios os sorteios não ajudaram tanto. Na Copa do Mundo tiveram que encarar EUA e Suécia e nas Olimpíadas caíram num grupo com França e novamente, os EUA. Nas duas competições a seleção colombiana caiu na primeira fase.


Em um novo ciclo, nova participação em Copa do Mundo. Depois de boas participações em sul-americanos e mundiais sub17 e sub20, a equipe que tinha como principal nome Catalina Usme foi a primeira seleção do continente, depois do Brasil, a passar da fase de grupos e jogar uma partida de oitavas de final de um mundial. Nem a derrota por 2 a 0 para os EUA apagou o brilho de todo este ciclo, que revolucionou o futebol feminino do país e deixou como o principal legado o surgimento de uma liga profissional de futebol feminino.


A Liga Feminina Dymaior estreou em 2017 e mesmo passando por algumas crises financeiras tem sido o principal fator de desenvolvimento da prática da modalidade no país. Com a federação dando suporte para torneios de base, a Colômbia se tornou uma das potencias entre as seleções mais jovens do continente e tem sido um dos locais em que clubes europeus, principalmente os espanhóis, buscam jovens talentos para os seus planteis.


A segunda força do continente entre seleções se destaca também nas competições de clubes, rivalizando anualmente com as equipes brasileiras na Libertadores. América de Cali e Independiente Santa Fé foram vices campeões da competição em 2020 e 2021 respectivamente. Algumas equipes brasileiras, depois de acompanhar muitas jogadoras de perto nestas competições, também buscam novos talentos por lá, casos de Liana Salazar no Corinthians e Mônica Santana do Grêmio.


Sediar a Copa América será mais um salto importante para o futebol feminino colombiano. Semanas atrás, na final do Campeonato Colombiano, ficou claro que são capazes de lotarem os estádios e fazer muita festa para a seleção durante todo o torneio. Tudo indica que, jogando perto da sua torcida e com um time talentoso, conquistará uma das três vagas diretas ao Mundial de 2023. Caso isso se concretize, deixará um legado gigantesco para as próximas gerações das “cafeteiras”.


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