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OS CAMINHOS DO DERBY

Os pontos fortes e fracos de Palmeiras e Corinthians para a Semifinal do Campeonato Brasileiro

Foto: Rebeca Reis - Staff Images Woman - CBF

O melhor campeonato brasileiro da história reservou para a semifinal um confronto das principais forças da modalidade. Corinthians e Palmeiras, seja lá qual for a modalidade, já carrega uma rivalidade histórica, que no futebol feminino, ganhou um tempero ainda maior depois dos últimos confrontos envolvendo as duas equipes, na Supercopa do Brasil e na primeira fase do Brasileirão.


Os times jogam de formas bem diferentes, ambos os treinadores tentam controlar o jogo através das suas ideias e sabem muito bem explorar as suas principais peças. Arthur Elias, depois de tantos anos, tem todo o elenco em suas mãos e mesmo com tantos desfalques durante a temporada conseguiu ficar entre as quatro melhores equipes do campeonato. Ricardo Belli, que já havia trabalhado no Palmeiras, provou nos poucos jogos sob o seu comando, que o nível de performance do time será mantido e ainda acrescentou algumas ideias novas neste curto período do seu retorno.


A seguir, detalharemos o que vimos das duas equipes nos últimos jogos, com seus pontos fortes e fracos. Grande parte desta análise foi feita indo aos jogos disputados dentro de casa. Pois, para este que vos fala, a melhor maneira de entender como um time joga é assistir a partida in loco.


PALMEIRAS E SUAS VARIÁVEIS


Se tem um time, neste campeonato, que muda a maneira de jogar durante a partida, é o Palmeiras. A saída repentina de Hoffman Túlio gerou um certo receio de que o time perderia um pouco desta ousadia de se transformar diversas vezes dentro dos 90 minutos, mas Ricardo Belli manteve a movimentação constante do meio para frente e aos poucos vem implementando algumas das suas ideias, principalmente na saída de bola e na marcação.


Durante a saída de bola, na maioria das vezes Andressinha se junta as zagueiras para fazer a saída com três jogadoras. As laterais avançam até a linha do meio campo dando amplitude e as pontas, principalmente Duda pela esquerda, que se desloca para o meio em tentando arrastar sua marcadora com ela. Quando isso não acontece e optam pela a bola longa, o foco é encontrar Bia Zaneratto ou Ary Borges, que muitas vezes caem para as pontas em busca de criar um vazio que é ocupado na maioria das vezes por Duda, motorzinho da equipe.

Saída de bola com Andressinha recuando para a saída com três jogadoras. Laterais e pontas sobem dando amplitude e forçando equipe adversária a acompanhar.

Com a posse de bola, o Palmeiras dá muita liberdade de movimentação para Ary Borges e Bia Zaneratto. Ary, na maioria das vezes, acelera o jogo no meio campo, seja conduzindo a bola ou com seus passes precisos, mas como citado acima, cai para um dos lados para arrastar a marcação ou trabalhar com laterais e pontas em uma triangulação. Bia muitas vezes sobe para fazer dupla de ataque, jogando de costas e servindo companheiras, mas mostra todo seu potencial quando sai da área e joga de frente para o gol. Atrás delas, Andressinha faz o jogo rodar quando o time encara adversários mais fechados. A forma como o time se movimenta a favorece. É quase impossível alguém no meio campo do Palmeiras não encontrar alguma opção para o passe e muitas vezes, este passe é vertical, quebrado as linhas de marcação e abrindo espaços.

A "espinha dorsal" formada por Andressinha, Ary Borges e Zanerrato comanda as ações. Movimentações constantes facilitam a transição ofensiva.

A movimentação e a troca de posições constantes são fundamentais para o sucesso do Palmeiras – prova disso é que entre as cinco principais artilheiras do campeonato, quatro são Palestrinas - mas também é um dos poucos problemas da equipe, principalmente no lado esquerdo. Katrine joga bem adiantada e quando Duda troca de posição com Bia ou Ary Borges, mas o time perde a bola, a recomposição não é feita na mesma velocidade do que quando Duda está por lá, criando um buraco entre a intermediária e a defesa.

O espaço deixado quando Duda fecha para o meio. Bia e Ary não acompanham a lateral ou a ponta do lado esquerdo.

Outro ponto de atenção são os embates físicos no meio-campo. Andressinha e Julia Bianchi por muitas vezes tem dificuldades em encarar adversarias que buscam o contato durante grande parte do jogo, como ficou claro nas partidas contra Internacional e São Paulo, por exemplo. Com o time organizado em campo isso não chega a ser um grande problema, mas com as linhas mais altas, perder estes embates significa ter o adversário avançando em maioria numérica contra uma defesa desguarnecida.


O Palmeiras é a melhor equipe do campeonato, a cada semana deu amostras de que está mais do que preparado para este momento e não vai deixar de buscar o controle do jogo nestes dois confrontos. Resta saber se do outro lado não terá uma surpresa de um time que conhece como poucos o que é jogar partidas como estas.


O CORINTHIANS E A SUA SEGURANÇA


A principal equipe do futebol brasileiro nos últimos anos vem sofrendo com contusões durante a temporada, mas em nenhum momento deixou de ser um time competitivo. O fato de ter grande parte do elenco trabalhando junto há um bom tempo e contar com Arthur Elias no comando, fez com que o time buscasse soluções e testasse posicionamentos e situações diferentes durante a primeira fase do campeonato.


Na maioria das vezes a equipe joga com duas linhas de quatro jogadoras e duas atacantes que se movimentam bastante, buscam triangulações nas laterais do campo e abrindo espaço para a chegada de jogadoras da segunda linha, como Gabi Zanotti e Adriana dentro da área. Nestes momentos Diany é a jogadora do meio-campo que fica mais recuada, mas isso não indica que ela fique muito distante, pois o Corinthians é disparado o time mais compacto da competição. Por mais que a descrição mostre um 4-4-2, o time joga com as linhas tão próximas que isso pode variar durante o jogo ou até durante uma ação ofensiva ou defensiva.


O Corinthians do final da primeira fase. Sem Zanotti, e com duas linhas de quatro nas primeiras linhas.

Quando se assiste o jogo do estádio, diversas vezes fica nítido o time formar uma linha ofensiva de quatro jogadoras para marcar a saída de bola adversária, adiantar o restante do time e ter a goleira Lelê quase como uma jogadora de defesa. Isso faz com que a equipe tenha um número maior de jogadoras no meio campo e, caso consiga roubar a bola, consiga ter opções de passe e avançar com extrema velocidade se aproveitando dos espaços deixados pela equipe adversária. Jogar com as linhas mais avançadas também proporciona a oportunidade de avanços das laterais. Do lado direito, Paulinha busca a linha de fundo e Adriana faz a diagonal para o centro. Do outro lado, Tamires faz a movimentação para dentro, deixando para a jogadora do lado esquerdo, que durante a temporada variou bastante graças as contusões, buscar mais a linha de fundo.

A marcação em linha alta. Pontas e laterais sobem, time compactado e a goleira Lelê (na cor laranja em destaque) fazendo o papel de líbero.


As contusões também fizeram Arthur tentar explorar a qualidade técnica da lateral Tamires nesta segunda linha do meio campo. Com Yasmin sempre próxima servindo de apoio, a lateral da seleção tinha mais liberdade ofensiva e ocupava o papel da jogadora de melhor nível técnico no meio campo, que era de Gabi Zanotti. Contra adversários mais frágeis e que o Corinthians ficou com a bola por mais tempo, a estratégia funcionou perfeitamente. No caso dos grandes jogos, entre eles o jogo contra o próprio Palmeiras pela primeira fase, a ideia não funcionou tão bem e foi facilmente batida pelo simples fato de Tamires não ter a sua frente espaço o suficiente para conduzir a bola e servir suas companheiras de ataque.

O Corinthians ideal, Com Zanotti mais avançada no meio campo, Tamires construindo por dentro e Adriana chegando na área em diagonal.


Os problemas enfrentados quando teve que encarar as equipes do topo da tabela fez com que o Corinthians buscasse reforços. Os principais nomes, Vic Albuquerque e Luana, davam indícios de que o Corinthians subiria novamente o nível do elenco e naturalmente se tornasse favorito ao título, o que não aconteceu. Vic sofreu demais com o duro confronto contra o Real Brasília e a contusão provavelmente a tirou das partidas da semifinal. Luana veio direto da seleção e a intensa preparação da meia durante o torneio da Colômbia, deixou sequelas e ela ainda não encontrou seu melhor nível físico, atrasando seu encaixe na equipe.


Na semifinal, os desfalques também afetarão a defesa, já que Tarciane está com a seleção sub20 e não participará do primeiro jogo. A jovem zagueira tem uma noção de tempo e espaço acima da média, que aliados com a sua altura e velocidade, fazem dela uma atleta essencial para um sistema que joga tão adiantado - e precisará de bastante sincronia para não correr grandes riscos. Com as ausências de nomes importantes para o sistema, a organização na hora de fechar os espaços, principalmente nas costas das laterais, tem sido um grande problema para Arthur e a sua comissão, já que Paulinha ainda não atingiu o nível de jogo da sua primeira passagem e tanto Yasmin quanto Tamires, jogam bem avançadas e costumam deixar espaços.


Com todos estes desafios e problemas o Corinthians quando entra em campo, principalmente em jogos como esse, sabe bem o que deve ser feito para sair de campo com a vitória. Porém, ao contrário do que vivenciou nos últimos anos, a sensação do campeonato está do outro lado e tem uma quantidade de talentos individuais, que o Corinthians há um bom tempo não encara. Será bem interessante ver como este time vai se comportar nestas circunstâncias.




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