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MULHER, NEGRA, LATINO-AMERICANA E CARIBENHA

No dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, contamos a história de Linda Caicedo, a heroína do Valle del Cauca


Foto: Getty Images | FIFA

Copa Libertadores Feminina 2021. Na transmissão, o narrador surpreso diz que um dos destaques da equipe do Deportivo Cali tem 16 anos de idade e foi artilheira da Liga Colombiana dois anos antes aos 14. A reação de espanto de todos envolvidos na transmissão vem seguida de comentários dando indícios de que, por mais talentosa que a garota fosse, ainda assim a competição nacional da Colômbia era de um nível baixo, o que poderia justificar os números da atacante prodígio.


Linda Lizeth Caicedo Alegría nasceu em Candelária, uma pequena cidade rural localizada a 27 quilômetros de Cali. Foi ali, desde pequena que demonstrou, além da paixão pela bola, uma habilidade acima da média para uma criança de tão pouca idade. Para sua sorte, ao contrário do que estamos acostumadas, ela teve o apoio de sua mãe, Herlinda Alegría, que ao ver a pequena garota jogando contra meninos bem mais velhos nas ruas próximas a sua casa, decidiu levá-la ao clube Real Juanchito. De acordo com relatos do vice-presidente do clube na época, Diego Vasquez, Linda chegou lá aos cinco anos e a primeira coisa que ouviu da mãe da pequena jogadora era de que ela precisava de um lugar para gastar toda a energia que tinha para jogar futebol, pois quase tudo na sua casa em algum momento se transformava em uma bola, o que por muitas vezes foi um problema, principalmente quando Caicedo quebrava algum objeto.


No clube localizado no Valle del Cauca, ela foi evoluindo de forma avassaladora e logo deixou os treinos e jogos recreativos para fazer parte das equipes que disputavam torneios pela região. A sua habilidade chamou a atenção de outro nome importante dentro do clube, desta vez o presidente Rafael Murillo, ou como ela o chama “Profe Rafa”, que nos anos seguintes teria papel importantíssimo na carreira da jogadora. Entre os anos de 2018 e 2019 as suas atuações chamaram a atenção de uma potência do futebol colombiano, o América de Cali, que com a ajuda de Murillo, conseguiu levar a atacante para fazer parte do projeto do clube voltado para a modalidade, que teve início em 2016. Logo na sua chegada, com apenas 14 anos, foi artilheira e peça fundamental da conquista do Campeonato Colombiano. Foi dela o importante gol marcado pela equipe na segunda partida da final, quando mesmo perdendo por 2 a 1 para o independiente Medellin, as “Diablas Rojas” ficaram com o título.


Depois da chegada avassaladora no América, Linda Caicedo foi contratada pelo rival da mesma cidade. O Deportivo Cali decidiu investir na jovem atacante para que ela fosse o principal nome da equipe para os próximos anos. Porém aos 15 anos de idade ela teve que encarar o pior adversário da sua vida. De acordo com relatos da própria jogadora, meses depois do seu aniversário ela começou a sentir dores esporádicas no estômago. Os primeiros diagnósticos foram de uma gastrite, mas com o tempo as dores se intensificaram e seu estômago começou a crescer repentinamente. Foi aí então que, depois de uma outra bateria de exames, a jogadora foi diagnosticada com câncer no ovário. O que causou uma surpresa em toda a família, já que este tipo de câncer atinge, em sua grande maioria, mulheres acima dos 50 anos de idade.


Durante todo o processo, a maior preocupação de Linda Caicedo era saber se poderia voltar a jogar. A ordem dos médicos foi clara desde o início – durante o tratamento, nada de futebol – o que para ela foi algo muito difícil de assimilar. Este processo durou seis meses entre a quimioterapia e a retirada do tumor. Por ironia do destino, todo o período entre o diagnostico e a cura aconteceu quando o planeta estava vivendo o auge da pandemia de COVID-19, o que fez com que ela não perdesse tempo de sua carreira. Em setembro de 2020 ela teve a notícia de que estava oficialmente curada do câncer e que poderia voltar a jogar o esporte que ela tanto ama.


O seu retorno aos gramados foi mais rápido do que se imaginava. Semanas depois da sua última sessão de quimioterapia ela já estava participando de uma partida do Deportivo Cali, clube que, aliás, ajudou demais durante todo o processo. Neste retorno apenas uma coisa a incomodava de verdade - o seu cabelo, que em função de todo o processo para a cura, chegou a cair. Foi necessária a busca por uma peruca resistente ao ponto de suportar a velocidade dos movimentos da atacante e claro, que suportasse os puxões e empurrões que toda ótima jogadora sofre em campo. De acordo com um relato de sua mãe para o Podcast chamado My Favorite Futbolista “Quando a sua peruca apropriada para jogar futebol ficou pronta, ela voltou a sorrir novamente”.


Assim como o sorriso, os gols também voltaram. Linda Caicedo foi artilheira da Libertadores de 2021 e no ano seguinte disputou duas Copas do Mundo – a sub-20 em agosto e a sub-17 em outubro, no qual foi vice-artilheira e a terceira melhor jogadora da competição. Mais recentemente, em 2023, dias depois de completar 18 anos, foi anunciada como a nova jogadora do Real Madrid. Além disso, tornou-se símbolo do futebol de mulheres em seu país, não só pelo que faz dentro do campo, mas também pela forma como ela retribui para a comunidade através de ações sociais e inspirando jovens mulheres a praticarem esporte. De acordo com uma fala da jogadora para a Telemundo, “contar para as pessoas a minha história e a forma como eu consegui seguir em frente é algo incrível. Todo mundo tem uma história diferente. Nem todo mundo nasceu sob as melhores condições”.








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