“Nem na várzea”
Provavelmente você já ouviu esta expressão em alguma conversa sobre algo que acontece no dia a dia do futebol e que, quando se trata do futebol profissional, é inadmissível.
Pois é, nem na várzea se entra em uma competição sem saber, a menos de uma semana do início, se haverá premiação. Mas quando se trata da Supercopa Feminina isso é, infelizmente, natural de acontecer.
O torneio tem uma proposta bem interessante, reunindo equipes de diversos estados e proporcionando ótimos confrontos eliminatórios, mas ao que tudo indica terá como premiação apenas a entrega das medalhas e nada mais.
Não entrarei na comparação com o masculino, mas jamais deixaria passar batido o desdém com o torneio que inicia a temporada do futebol de mulheres no Brasil. Desdém que ficou nítido até no sorteio dos confrontos, onde todos assistimos a ótima Aline Pellegrino fazendo o chaveamento como se estivesse em uma Live no seu próprio canal no YouTube, e não em um de um evento organizado pela CBF.
O tal descaso foi seguindo nas semanas seguintes ao sorteio. O Corinthians, atual campeão brasileiro, não jogará em nenhuma das suas casas e levará a estreia da principal equipe do país ao gramado sintético do Estádio Inamar, em Diadema. Num final de semana com jogos de três divisões de futebol dos homens sendo disputados nos principais estádios da cidade (o time masculino do Corinthians jogará na Neo Química Arena no mesmo dia) sobrou o simpático estádio da cidade do ABC Paulista para as Brabas iniciarem a temporada.
No mesmo período Lindsay Camila, treinadora do Atlético Mineiro, ironizou que como premiação por participar da Supercopa, ganhou uma viagem de ônibus para enfrentar o Corinthians. A CBF, que por muitos anos teve parceria de permuta com uma companhia aérea, foi incapaz de investir ou conseguir receitas para fazer uma equipe se locomover de Belo Horizonte para São Paulo.
Outro ponto a ser ressaltado é a apresentação do produto. Fica complicado atrair novos espectadores ou consumidores para a modalidade quando os primeiros jogos transmitidos pela maior emissora do país as 10:30 e com jogos envolvendo as duas maiores torcidas do país jogando longe dos seus domínios e até das suas cidades. Se o Corinthians já tem força o suficiente para atrair torcedoras em todos os cantos de São Paulo, não se pode dizer o mesmo do Flamengo, que fez diversas contratações e tem tudo para ser uma atração da temporada, mas jogará em uma manhã de verão do Rio de Janeiro.
Apesar de tudo isso, a Supercopa tem tudo para ser um ótimo torneio. Há muita coisa boa para se ver nos jogos, como os novos elencos sendo testados, os clubes que subiram para a primeira divisão e algumas jogadoras da seleção em campo meses antes da Copa do Mundo. Para você que chegou até aqui e está desanimado, eu gostaria de deixar claro que, mesmo com a desorganização e a falta de compromisso das lideranças do nosso futebol, que tentam atrapalhar a evolução da modalidade com diversas atitudes, as equipes provam ano após ano que os trabalhos sérios de jogadoras e comissões técnicas vêm dando resultado e o nível de jogo e competitividade está evoluindo em alta velocidade.
Portanto, caso você queira ver um bom jogo de futebol, fique ligado no início da noite de sábado no SPORTV e a manhã de domingo na GLOBO, ou melhor, vá ao estádio para apoiar um dos times envolvidos na competição. Tenho certeza de que terá uma experiência incrível.
Comments